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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Resenha do filme: REFLEXÕES de um liquidificador

REFLEXÕES de um liquidificador. Direção: KLOTZEL, André. Produção: KLOTZEL, André. Roteiro: de Souza, José Antônio. São Paulo: Brás Filmes e Aurora Filmes, 2010.  DVD. (80 min.). Color. Som.

 
 

A historia se passa na cidade de São Paulo e tem como protagonista um liquidificador cuja voz é narrada por Selton Mello. Quase todo o cenário é em uma cozinha. Com uma rotina banal, sem fortes emoções. Convivem muito bem, apesar dos problemas financeiros. A dona de casa e taxidermista nas horas vagas, Elvira é interpretada brilhantemente por Ana Lucia Torres. Onofre é vigia noturno. A narrativa muito bem ordenada começa com um delito já consumado correndo em dois tempos. No passado, mostram os eventos que levam ao homicídio. No presente, se incidem os inquéritos.  O liquidificador interpretado cinicamente por Selton torna-se cúmplice, participando de maneira terminante em tal crime, ao menos na ocultação.

Elvira começa a se sentir perseguida após a comunicação que o liquidificador desenvolve apenas com ela. Ela começou a desconfiar de sua própria sanidade mental. O liquidificador tem uma visão quase infantil do mundo. Suas conversas sempre tem perguntas básicas, e Elvira o responde tediosamente como se dirigisse a uma criança curiosa.  O ambiente fechado da cozinha se torna uma arena de um mistério que a levará a ser suspeita do desaparecimento do seu marido. O liquidificador é a base para a trama se desenrolar, o que promove um clima sombrio de humor sarcástico. O argumento mais forte da comunicação do liquidificador é de cunho e perguntas filosóficas e do existencialismo, traçando um paralelo entre a máquina e o homem.

O filme tem uma linha de tempo bastante particular, pois não é linear, com idas e vindas minuciosamente organizadas. Alguns episódios foram postos em flashback o que permite enxergar um pouco do mistério que levou Onofre a desaparecer. Os sons e imagens são perfeitamente montados aproveitando com muita competência o panorama com seus objetos. O casal Elvira e Onofre de terceira idade moram em um casebre em meio a selva de pedra de Sampa.

Mesmo que não tenha sido proposital, a história faz uma certa apologia à impunidade, pois apesar de saber-se quem morreu, quem matou, qual a motivação e o cúmplice, as cenas deixam no ar uma impressão de mesquinhez na solução do conflito. O liquidificador personagem protagonista estaria envolvido no crime pela ocultação e omissão.    

A principal impressão que o filme passa é que na atualidade com tantas invenções e máquinas criadas pelo homem, insurgiu a humanização das maquinas ou mesmo a robotização dos homens. O Liquidificador passa a ser metáfora do pensamento, como moedor de idéias e signos. Mostra e reflete a posição do homem moderno em sua construção de mundo. A possível solidão que enfrentamos na atualidade, o que nos induz a buscar formas inusitadas de relacionamentos.

 A relação entre homens e máquinas está cada vez mais íntima, mas com suas possíveis conseqüências. Vivemos mais sozinhos em meio à vastidão de pessoas. Preferimos estar próximos de uma máquina para evitar as complexidades emocionais e sentimentais que todos os seres vivos têm. Tal solidão reflete a necessidade que a dona de casa tinha de se comunicar buscando alternativas impossíveis, mas que no filme se faz real.

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